sábado, 29 de março de 2014

Texto "Dinheiro" de Karl Marx

Texto utilizado em uma das aulas de Filosofia sobre Consumo Alienado
(Ser Humano - Técnica, trabalho, alienação. - Temas complementares)


DINHEIRO

O que é pra mim pelo dinheiro, o que eu posso pagar, isto é, o que o dinheiro pode comprar isso sou eu, o possuidor do próprio dinheiro. Tão grande quanto a força do dinheiro é a minha força. As qualidades do dinheiro são minhas – [de] seu possuidor – qualidades e forças essenciais. O que eu sou e consigo não é determinado de modo algum, portanto, pela minha individualidade. Sou feio, mas posso comprar para mim a mais bela mulher. Portanto, não sou feio, pois o efeito da fealdade, sua força repelente, é anulado pelo dinheiro. Eu sou – segundo minha individualidade – coxo, mas o dinheiro me proporciona vinte e quatro pés; não sou, portanto coxo; sou um ser humano mau, sem honra, sem escrúpulos, sem espírito, mas o dinheiro é honrado e, portanto, também o seu possuidor. O dinheiro é o bem supremo, logo, é bom também o seu possuidor, o dinheiro me isenta do trabalho de ser desonesto, sou, portanto, presumido honesto; sou tedioso, mas o dinheiro é o espírito real de todas as coisas, como poderia seu possuidor ser tedioso? Além disso, ele pode comprar para si as pessoas ricas de espírito, e quem tem o poder sobre os ricos de espírito não é ele mais rico de espírito do que o rico de espírito? Eu, que por intermédio do dinheiro consigo tudo o que o coração humano deseja, não possuo, eu, todas as capacidades humanas? Meu dinheiro não transforma, portanto, todas as minhas incapacidades (Unvermögen) no seu contrário?

Se o dinheiro é o vínculo que me liga à vida humana, que liga a sociedade a mim, que me liga à natureza e ao homem, não é o dinheiro o vínculo de todos os vínculos? Não pode ele atar e desatar todos os laços? Não é ele, por isso, também o meio de universalização e separação? Ele é a verdadeira // moeda divisionária (Scheidemünze), bem como o verdadeiro meio de união, a força galvano-química (galvanochemische) da sociedade.

REFERÊNCIA: MARX, Karl; Tradução: Jesus Ranieri. Manuscritos econômico-filosóficos. São Paulo: Boitempo editorial, 2004.

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